O Início:
Alberto Almeida nasceu numa pequena aldeia
rural do concelho de Coimbra, S. Martinho de Árvore, no extremo sul da região
demarcada da bairrada. Desde muito novo participou nas tarefas agrícolas da
família, ajudando os pais nos trabalhos de amanho das terras ou guiando a junta
de bois do tio Chico numa pequena exploração familiar dedicada à produção de leite,
vinho, legumes e outros produtos para consumo próprio.
É neste contexto de contacto permanente
com a terra que estabelece uma forte relação com a natureza, deixando-se encantar
com o ciclo das colheitas, com a magia da sucessão das estações do ano, com as
cores de outono ou com o cheiro a terra acabada de remexer.
A dureza e o encanto das ancestrais
práticas agrícolas, sobretudo as ligadas ao vinho, marcaram indelevelmente a sua
infância, o seu imaginário e a sua personalidade.
Mais tarde, fascinado com a descoberta
do admirável mundo dos vinhos, sobretudo os clássicos da casta baga da bairrada
e num ímpeto notálgico de regresso ao seu imaginário infantil, decide “voltar”
à terra e fazer o seu primeiro vinho na vindima de 2006.
Essa primeira experiência de
vinificação levo-o à fascinante descoberta dos “vinhos de garagem” e marcará
irreversivelmente o seu destino. Nunca mais parou!
Inquieto, ousado, experimentalista e
defensor de uma vitivinicultura sustentável, que respeita a terra, as vinhas,
as pessoas e as tradições e sobretudo apaixonado e defensor do conceito de vinhos menos
intervencionados, inicia na sub-região
Terras de Sicó, um trabalho de recuperação de vinhas velhas e ensaios de vinificação que decorrem
durante 14 vindimas consecutivas, nos quais experimenta diferentes abordagens
de vinificação e ensaios com barricas de diferentes tipologias e origem com as castas autóctones
da região.
Este
trabalho de experimentação leva-o em 2017 à criação do projeto Vinha das Penicas – Vinhedos Antigos,
com o objetivo de criar vinhos pouco intervencionados, a partir de 2,5 hectares de vinhas muito velhas resgatadas do
abandono, divididas por 4 parcelas de com idades compreendidas entre os 70 e os
110 anos.

A Sub-Região Terras de Sicó:

A região apresenta um clima temperado mediterrânico caracterizado por
invernos frios e húmidos e verões quentes e secos, com dias de grande amplitude
térmica, registando-se frequentemente a ocorrência de nevoeiros matinais que se mantêm até cerca das
11 horas da manhã, permitindo maturações equilibradas e a obtenção de vinhos
tintos elegantes e brancos com grande frescura.
Ainda
que a criação da IG Beira Atlântico sub-região Terras de Sicó seja recente, há
pouco mais de 25 anos, nela encontramos
marcas milenares da cultura da vinha e do vinho, existindo vários lagares
cavados na pedra com origem nas épocas pré-romana e romana.

As
vinhas velhas plantadas
nas suas encostas solarengas, em torno do maciço calcário da Serra de Sicó, são um património impar e incontornável, onde
encontramos condições de excelência para a criação de vinhos de carater único e
excecional qualidade.
Para além da cultura das vinhas a
região tem outras riquezas como sejam o seu
património histórico com ruínas romanas, castelos e igrejas etc., sem esquecer
a gastronomia e os produtos endógenos como o mel, o azeite, o queijo Rabaçal e
inevitavelmente o vinho Terras de Sicó.
As Vinhas:

A região
conserva um património ímpar de vinhedos antigos,
plantados
em solos de maioritariamente de origem argilo-calcária de diferentes nuances,
mas onde também encontramos solos com afloramentos de xisto.
As vinhas
que servem de base ao projecto Vinha das
Penicas – Vinhedos Antigos situam-se na Sub-Região Terras de Sicó, mais
propriamente na freguesia de Lamas, no concelho de Miranda do Corvo e na
freguesia de Vila Seca e Bendafé, no concelho de Condeixa e tem idades
compreendidas entre os 70 e os 110 anos.

Nestas
vinhas podemos encontrar plantadas as castas baga e fernão pires, largamente
dominantes, entre mais de uma dezena de outras castas autóctones onde se
destacam, nas tintas, a bastardo, a rufete, a trincadeira e a casta grand noir,
esta última trazida para a região por trabalhadores franceses aquando da
construção do ramal ferroviário da Lousã e nas castas brancas, para além da
dominante fernão pires, podemos encontrar a bical, a dona branca e rabo de
ovelha e entre outras não identificadas.
Para
colmatar as cepas em falta nestes vinhedos ancestrais foram plantados “bacelos bravos”
que têm vindo a ser enxertados com “garfos” das próprias parcelas, garantindo
assim a sua restruturação com o seu material genético original.
O conceito

Este território de
excelência constitui o ponto de partida para a criação de “vinhos de autor”, de produção limitada, numa abordagem
artesanal e minimalista, que expressem sobretudo uma preocupação de fidelidade
a um conceito. Um conceito com identidade, caráter, complexidade e sobretudo
singularidade.
Privilegia-se o trabalho manual nas
vinhas, sem recurso ao uso de herbicidas, procurando implementar práticas
culturais que proporcionem a colheita uvas de qualidade sanitária
irrepreensível que permitam intervenções mínimas na adega.
Os vinhos são elaborados a partir de
vinificações com recurso a leveduras indígenas, recorrendo a doses comedidas de
sulfuroso e a um acabamento em barricas usadas de qualidade superior com origem
em St. Emilion- Bordéus, no caso dos tintos e da Borgonha para os brancos.
Os vinhos resultam do field blends dos 2.5 ha de vinhas muito
velhas, divididas por 4 parcelas com idades que variam entre os 60 e os 114
anos, plantadas em solos argilo-calcários e xistosos.
Actualmente a Vinha das Penicas coloca no mercado três vinhos, o Vinha das Penicas Tinto, Vinha das Penicas Branco e Espumante Vinha das Penicas Bruto Natural, com uma produção de 1800 garrafas numeradas por referência.