Publicado em: Maio 21, 2024 Por: Frederico Duarte Comentarios: 0

O projeto idealizado por dois amigos enólogos de longa data, o João Ramos (também enólogo da Venâncio Costa Lima – Setúbal) e o Nuno Duarte (também enólogo da Justino’s – Madeira), ambos com experiência histórica e familiar em vinhos de talha, pois suas famílias são oriundas do Alentejo. O contacto com estas as técnicas ancestrais, foi o que os levou a rumar à enologia de um modo profissional e passado alguns anos de carreira decidem envergar num projeto pessoal. O potencial da tradição e autenticidade são a base do projeto, com o intuito de manter as gerações ligadas à terra e à sabedoria, que de outro modo se perde no tempo.

Para além da mesma formação e amizade, têm em comum ideais como o respeito pela tradição, pela sabedoria popular e pela autenticidade. Para eles é importante manter a ligação à terra, criando vinhos que refletem mais a identidade das suas origens do que quem os produz. Daí o nome Produções Anónimas.

Os Maquete são os primeiros vinhos dentro das Produções Anónimas, que nasceram em 2021. São vinhos de produção limitada, produzidos na Amareleja (Alentejo), uma aldeia típica de vinhos de talha. As talhas Alentejanas do século XIX, são usadas na vinificação, de castas tipicamente alentejanas, desde há décadas usadas em para talhas. O projeto defende isso mesmo, proteger a identidade e a história de um Alentejo esquecido, com o cunho pessoal destes dois enólogos que defendem um produto genuíno e natural.

As vinhas usadas, são oriundas de duas parcelas, de castas autóctones do Alentejo, vinhas velhas em modo biológico certificado e em sequeiro, numa região quente que obriga as plantas a expandir as suas raízes para profundidades e assim suportarem melhor carências e stress hídrico.

Maquete Barro Branco 2022

É um vinho feito de castas plantadas em Fiel Blend, com predominância de Rabo de Ovelha e Roupeiro, incluí ainda Diagalves, Manteúdo e Antão Vaz. É uma vinha localizada na Margem Esquerda do Guadiana. Vinhas de sequeiro, dispostas sem qualquer sistema de condução, tendo sido implantada em vaso, o antigo sistema de condução do Alentejo. Os solos não são movimentados. Tratam-se de solos pardo-avermelhados, xistosos de textura arenosa ou fraco-arenosa, com componente de aluvião, pelo facto de essas terras antigamente fazerem parte do leito do Rio Guadiana, outrora navegável. As vinhas não são tratadas, estando 100% em modo biológico. Os rendimentos rondam as 3TON/ha, ou seja, produções pequenas. Vindima manual, no inicio de Agosto, feita a partir das 5h da manhã, de modo a que as uvas possam entrar mais frescas nas talhas.

A vinificação deste vinho é muito simples e com recursos a métodos pouco interventivos. As uvas chegam a adega e são desengaçadas para duas talhas. Fermentação alcoólica e malolática ocorre de forma espontânea e em contacto com as massas, nesta fase as massas são submersas no líquido duas vezes por dia, de modo a controlar a extração. São brancos de curtimenta. Uma vez que a manta cai, atesta-se a talha e fica destapada até dia 11 de Novembro (São martinho), altura que são abertas as talhas, separando o liquido dos sólidos. Uma vez separado, os vinhos ficam em tarecos (talhas mais pequenas) até ao dia do engarrafamento (Maio do ano seguinte). Os vinhos não são sujeitos a qualquer processo de estabilização, pois ficam todo o inverno sujeitos às temperaturas frias do Alentejo e isso contribui também para uma estabilização natural.

Trata-se de um branco de talha mais rustico, gastronómico que pode acompanhar queijos mais complexos. Um vinho particular.

Maquete Barro Tinto 2022

É um vinho tinto de castas tradicionais do Alentejo. As uvas proveem de duas vinhas distintas. Uma das vinhas é de Moreto na Amareleja, localizada na Margem Esquerda do Guadiana, ao lado da vinha de casta branca. Vinhas igualmente de sequeiro em vaso. E a outra vinha localiza-se em Montemor, uma região com outra amplitude e mais fria, de solos mediterrâneos pardos de gneisses e de textura franco arenosa. Nesta vinha temos Touriga Nacional e Alicante Bouschet. Ambas as vinhas em modo Biológico. A vindima é manual e normalmente no final de Agosto.

A vinificação deste vinho é muito simples e igualmente com recursos a métodos pouco interventivos. As uvas chegam a adega e são desengaçadas para duas talhas, uma de Moreto da Amareleja e outra de Touriga e Alicante de Montemor. Fermentação alcoólica e malolática ocorre de forma espontânea e em contacto com as massas, nesta fase as massas são submersas no líquido duas vezes por dia, de modo a controlar a extração. As temperaturas não são nunca controladas nas talhas. Estes vinhos tintos ficam depois, de forma estática nas massas, durante 6 meses. Só nessa altura as talhas são abertas, sendo que o líquido passa de forma natural pelas massas, fazendo de filtro. Depois as massas são retiradas da talha e escorridas, sem as prensar. Uma vez que o lote está feito, volta à talha até o engarrafamento.

Trata-se de um tinto de talha menos rustico, de cor aberta, muito gastronómico que acompanha por exemplo as carnes de gordura alentejanas. Um vinho igualmente particular.

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